segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Um retrato da escola em que leciono com enfoque nas questões étnico-raciais

         Diante de alguns imprevisto, optei por realizar um levantamento não-oficial com uma turma de oitavo ano. Elaborei uma ficha solicitando idade, sexo e grupo étnico-racial. A turma é composta por 28 alunos matriculados, 20 alunos frequentes, porém no dia em que eu realizei a atividade estavam presentes 18 estudantes.
        O gráfico 1 demonstra a composição da turma por sexo feminino e masculino, nota-se que a turma é composta em sua maioria por meninos. Esta é uma característica que se repete em todas as turmas do ensino fundamental em minha escola. Segundo relato das estudantes é difícil para elas manter a rotina de estudo, pois possuem a responsabilidade de cuidar dos irmãos mais novos, trabalho, e outros interesses extraescolares. 
       No gráfico 2 reflete a composição da turma por faixa etária, e um problema que precisa ser solucionado: a distorção idade-serie. Os estudantes no 8 ano deveriam ter idade entre 13 e 14 anos. Contudo, o número de reprovação em escolas públicas de periferia é significativo, isto acaba gerando uma desmotivação e falta de interessa nos estudos por parte dos estudantes que precisam passar mais tempo do que o previsto no ensino fundamental.
     O gráfico 3 demonstra a composição da turma por cor-raça a partir da autodeclaração. Embora eu prefira a nomenclatura “grupos étnico-raciais” optei por utilizar no formulário o nome cor/raça, por este ser utilizado nas fichas do censo e por acreditar que eles estariam mais familiarizados com este termo. Ao analisar os dados do gráfico 3 conclui-se que a diferença entre os adolescentes que se autodeclaram negros e brancos é pouca. Apenas um estudante optou por não se declarar a pertencer nenhum grupo.

      O censo de 2010 (IBGE,2010)¬ da população brasileira demonstrou que a composição brasileira é em sua maioria não é composta de brancos. Os indivíduos autodeclarados brancos são 47,7%, pretos 7,6%, pardos 43,1%, amarela 1,1% e indígena 0,4%. Desta maneira, ao somarmos pardos com pretos temos um total de 50,7% da população. Na atividade realizada em sala de aula, observa-se que os estudantes apresentaram uma postura de “binarismo”, ou seja, ou o individuo é branco ou negro. Esta é uma característica que difere das realidades do censo, onde a opção parda “é vista como um ‘coringa’ que abriga todos os indivíduos resultantes das misturas no caldo das três raças” (SENKEVICS; MACHADO; OLIVEIRA, 2016).

Referências Bibliográficas:

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. Disponível em < https://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html>

SENKEVICS, Adriano Souza; MACHADO, Taís de Sant’Anna; OLIVEIRA, Adolfo Samuel.  A cor ou raça nas estatísticas educacionais: uma análise dos instrumentos de pesquisa do Inep. Brasília – DF. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 2016 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Raça, etnia, preconceito, discriminação e racismo


Ao falarmos e/ou ouvirmos ao termo raça devemos ter cuidado, pois esta é uma palavra que possui uma carga de complexidade histórica e social. Deve-se estar atento ao sentido, significado e contexto em que ela é usada. De acordo com Gomes ( 2005, p. 45) os movimentos negros e sociólogos não empregam o termo dentro da ideia de raças superiores e inferiores, mas sim dentro de uma dimensão social e política. Há também de se considerar que no Brasil a discriminação racial e o racismo ocorre devido aos aspectos culturais, mas também pelos aspectos físicos observáveis na estética corporal dos indivíduos de determinado grupo étnico-racial. 
Gomes ( 2005)  faz a seguinte observação sobre o termo raça

“Os militantes e intelectuais que adotam o termo raça não o adotam no sentido biológico, pelo contrário, todos sabem e concordam com os atuais estudos da genética de que não existem raças humanas. Na realidade eles trabalham o termo raça atribuindo-lhe um significado político construído a partir da análise do tipo de racismo que existe no contexto brasileiro e considerando as dimensões histórica e cultural que este nos remete.” (GOMES, 2005, p. 47)

Etnia é “usado para se referir ao pertencimento ancestral e étnico/racial dos negros e outros grupos em nossa sociedade” (GOMES, 2005, p. 51). O termo que considero mais adequado, e o qual utilizarei durante a escrita deste trabalho será grupos étnico-raciais, por compreender que estes dois termos possuem significados relevantes, se complementado e fundindo dentro do contexto social brasileiro.


Segundo Nogueira (2007, p.6) o preconceito racial é entendido como

 uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece”.

O preconceito racial e uma atitude que se se aprende socialmente, não se nasce preconceituoso, as crianças aprendem a ser preconceituosas observando atitudes raciais dos adultos (GOMES, 2005). Há de se considerar que uma criança vive em diversos ambientes, família, vizinhança, igreja, círculo de amizades, e escola. Por este motivo a escola tem um papel fundamental na desconstrução de preconceitos. 
O racismo é considerado por Gomes (2005, p.52) como um “comportamento, uma ação resultante da aversão, por vezes, do ódio, em relação a pessoas que possuem um pertencimento racial observável por meio de sinais, tais como: cor da pele, tipo de cabelo, etc.” A discriminação social está relacionada com o preconceito racial e o racismo, e pode ser entendida como uma “prática do racismo e efetivação do preconceito” (GOMES, 2005).


No Brasil, ser de determinado grupo étnico-racial não está limitado apenas as características físicas, mas sim também a uma escolha política, pois o que é valido é a autodeclaração (BRASIL, 2004). Senkevics, Machado e Oliveira (2016) ao analisar os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicilio (Pnad)  há uma forte disparidade entre a população autodeclarada como negra e branca em variados indicieis educacionais.


Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília- DF. Out. 2004

GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. Disponível em > http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/10/Alguns-termos-e-conceitos-presentes-no-debate-sobre-Rela%C3%A7%C3%B5es-Raciais-no-Brasil-uma-breve-discuss%C3%A3o.pdf

 NOGUEIRA, ORACY. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 19, n. 1 pp. 287-308


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Inclusão e o Laudo

      A Nota Técnica 04/2014 do MEC/SECADI/DPEE  garante a educação a todas crianças, jovens e adultos independente de serem pessoas com necessidades educacionais, facilitando assim o processo de inclusão dos estudantes. Neste mês saiu uma reportagem na Revista Nova Escola intitulada “O aluno por trás do laudo”. No texto há a citação da resolução n. 4 do MEC.

      Na escola onde eu leciono, que faz parte da rede estadual de educação, contamos com uma sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), a professora responsável desenvolve atividades para auxiliar na construção do conhecimento dos alunos. Contudo, eu me questiono como ocorre a inclusão dos estudantes com necessidades educacionais em escolas que não tem esse apoio. Nestes casos, penso que o laudo seja importante para o professor saber quais serão as possíveis necessidades e dificuldades do estudante. É claro que a ausência dele não deverá impedir a criança de frequentar a escola.

     “A deficiência é um conceito em evolução, de caráter multidimensional e o envolvimento da pessoa com deficiência na vida comunitária depende de a sociedade assumir sua responsabilidade no processo de inclusão, visto que a deficiência é uma construção social. (MAIOR, s/d,  p.2). Pensando na questão de inclusão fica evidente a importância  da comunidade escolar ( pais, professores, funcionários, gestores entre outros) de assumir a responsabilidade pelo processo de inclusão. E chamo a atenção para o papel dos órgãos públicos de disponibilizar recursos materiais e humanos para que esta inclusão seja efetiva.

      Na escola em que eu leciono há diversos alunos com inclusão, após a realização do dossiê descobri que o número exato é de 39  estudantes. Eles apresentam deficiências, transtornos globais de desenvolvimento (TGD), e há também os estudantes com altar habilidades em determinadas áreas. Na minha sala de aula eu já tive alunos com deficiência visual (baixa visão) e intelectual. Nos sempre contamos com apoio da sala de atendimento especializado (AEE), mas é apenas um atendimento isolado (hora marcada ou auxilio em algum caso de emergência), não tem quem nos auxilie continuamente (turno inteiro). Não existem recursos materiais para auxiliar os estudantes, se eu quisesse criar um jogo para facilitar na aprendizagem, eu deveria construir com os meus próprios materiais. Infelizmente, quando a inclusão ocorre sem investimentos, os alunos e nós professores sofremos muito, mas aprendemos a resolver os problemas. Para o aluno com baixa visão eu costumava fazer a impressão de textos e atividades com letras grandes. Já os estudantes com deficiência intelectual sempre procuro desenvolver atividades que estejam próximas do seu nível intelectual.  


Referências:

MAIOR, Izabel. História, conceito e tipos de deficiência. Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2206621/mod_resource/content/1/Hist%C3%B3ria%2C%20conceito%20e%20tipos%20de%20defici%C3%AAncia.pdf. Acessado em 20 de out. de 2017.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Animismo (Piaget)

      Segundo Piaget(1999) animismo infantil é a “ tendência a conceber as coisas como vivas e dotadas de intenção (1999, p. 30)”. No início será considerado vivo todo objeto que exerça alguma utilidade para o homem (ex: forno que esquenta), após a vida será destinada aos agentes e corpos que parecem se mover (ex: vento e lua). O objeto/corpo que recebe a vida tem acrescentado uma consciência, não igual à dos homens, mas uma consciência “minimum” de saber e intencionalidade.

        No vídeo abaixo podemos assistir uma menina que demonstra como pode ocorrer o animismo nas crianças. Ela desenha o sol e uma lua, destinando sentimentos e uma família para eles. 



Referência:
PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Tradução Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24 ed. Rio de Janeiro. Forense Universitária. 1999